de onde vem essas propagandas apelativas de jogos mobile?
gatilhos emocionais e psicológicos explorando sentimentos de frustração, urgência e empatia, quase sempre com um nível absurdo de objetificação e sexualização do corpo das mulheres
Você já deve ter visto propagandas de jogos mobile onde parece que a pessoa está jogando mal de propósito só pra te irritar ou mostram alguma história bizarra pra prender sua atenção, nem que seja pelo absurdo. Bom, é justamente essa reação visceral que os anúncios buscam explorar.
E como se não bastasse, o jogo real não tem nada a ver com aquilo que foi anunciado 🤡
Essas propagandas falsas que se proliferaram nos últimos anos funcionam como "produtos mínimos viáveis", validando interesses dos consumidores a um custo muito menor do que desenvolver de fato o jogo e ir testando.
As empresas de jogos mobile adotaram essa nova estratégia e produzem centenas de anúncios com pequenas variações visuais, medindo quais versões atraem mais cliques e só depois que uma dessas propagandas funciona bem o suficiente é que elas começam realmente a desenvolver um jogo correspondente – que quase sempre ainda vai ser diferente do prometido.
O departamento de marketing de muitas dessas empresas é totalmente alheio ao time que realmente desenvolve os jogos, ou seja, as metas de uma não tem a ver com a outra e a publicidade ganha um caráter de testes de conceitos. Apesar de ser uma estratégia, no mínimo, duvidosa, ela funciona para o que se propõe. Às vezes a propaganda não é completamente falsa, mas foca em um mini-game ou mecânica muito escondida. E é justamente esse o problema.
Essas propagandas exageram em gatilhos emocionais e psicológicos para estimular impulsos consumistas imediatos explorando sentimentos de frustração, urgência e empatia, quase sempre com um nível absurdo de objetificação e sexualização do corpo das mulheres, inclusive.
Esse tipo de jogo é projetado para gerar vícios comportamentais e manter jogadores gastando em microtransações infinitas e, claro, vendo mais anúncios. O perfil de jogadores mobile é majoritariamente casual, instalam e desinstalam jogos com a mesma facilidade. Isso faz com que as desinstalações não sejam um problema já que o objetivo é testar a ideia do jogo, não o jogo em si.
As plataformas de distribuição não apenas permitem a veiculação, mas também lucram ativamente com essas práticas que beiram a desonestidade. Afinal, google e apple recebem até 30% de cada transação que as pessoas fazem nesses apps. Regulamentar ou combater esse tipo de publicidade significaria abrir mão de bilhões em receitas.
Assim, os jogos mobile vão perdendo a qualidade, o potencial artístico e cultural em nome do lucro rápido. E não é só com jogos de celular, mas a indústria toda: além de preços cada vez mais absurdos, os jogos hoje em dia exigem assinaturas e compras complementares para ter acesso ao conteúdo prometido na propaganda – e não vamos nem entrar na bizarrice de “game as a service” aqui.
Se quisermos voltar a ter jogos que realmente priorizem diversão, arte, cultura e criatividade, precisamos superar o modelo econômico dominante. Repensar essa lógica, aliás, é o primeiro passo para recuperar condições mais dignas para desenvolvedores, designers e toda a classe de trabalhadores de desenvolvimento de jogos.