não estamos no ciberespaço, estamos no Brasil 🇧🇷
politizar radicalmente a tecnologia significa reconhecer que quem programa, projeta ou desenha produtos digitais não é um “profissional diferenciadoˮ – é trabalhador
A internet não é mais uma promessa de liberdade. Hoje, ela é uma infraestrutura de extração de valor onde todos os seus principais serviços operam a partir da vigilância, da captura de dados e da exploração de trabalho precarizado. Não tem neutralidade nesse processo.
O modelo das big techs concentra poder econômico e define os limites do que é possível no ambiente digital. Ao mesmo tempo, empurra uma narrativa de inovação como se as transformações tecnológicas fossem inevitáveis e naturais. Só que essa ideia serve apenas pra esconder o conflito de classe que estrutura esse setor.
O problema nunca foi a tecnologia. O problema é a classe que a controla 💰
O movimento do software livre, por exemplo, entrou em crise justamente por ignorar essa relação. Ao focar só na abertura do código, deixou de lado as condições materiais da sua produção e manutenção. Enquanto as empresas bilionárias monetizam repositórios públicos e estruturas que basicamente mantém a internet funcionando, comunidades inteiras operam sem recursos, com sobrecarga e sem receber nada em troca.
O mesmo acontece com os defensores da descentralização da internet. Blockchain, criptomoedas e redes distribuídas foram apresentadas como alternativas ao controle centralizado, mas, na prática, reproduzem concentração de capital, fraudes financeiras e dependem de infraestruturas que seguem sendo operadas por grandes grupos monopolistas.
A internet não é terra sem lei, porque não é um território ☁️
A gente esquece que pra tudo isso aqui funcionar, são necessários espaços físicos que armazenam os sites que a gente usa, os aplicativos de entrega e até os dados do governo. Tudo isso fica fisicamente em territórios que possuem leis e são controlados por interesses de governos – e donos do capital. No Brasil, a gente tá vendo data centers recebendo incentivos fiscais enquanto trabalhadores da tecnologia são demitidos em massa por e-mail.
O design de interface também participa ativamente desse processo. Cada escolha de layout, de interação e de experiência responde a objetivos de retenção e monetização. O papel do design nesse sistema é tornar invisível as relações de produção do mundo “real”
Politizar radicalmente a tecnologia significa reconhecer que quem programa, projeta ou desenha produtos digitais não é um “profissional diferenciadoˮ – é trabalhador. E como qualquer trabalhador, enfrenta o risco da demissão, da automação e da substituição por IA generativa treinada com dados roubados.
Pra além da crítica superficial às redes sociais e big techs, o que precisamos é de ação organizada. Criar alternativas de código aberto, sistemas descentralizados ou cooperativas de software não vão resolver a raiz do problema: o capitalismo.
Por isso nosso objetivo é convidar você, que trabalha no setor de tecnologia, a pensar na superação desse modelo de sociedade e trabalhar para atingir um novo nível de qualidade no desenvolvimento de tecnologias que vão resolver problemas complexos do nosso povo. Afinal, não estamos no ciberespaço. Estamos no Brasil 🇧🇷